domingo, fevereiro 18, 2018

O QUE É QUE UMA MULHER MAIS VELHA PODE OFERECER?


Recentemente, uma amiga, jovem esposa de pastor, que tem o dom de ensinar com sabedoria e graça as mulheres de sua igreja (e outras), pediu-me um texto para compartilhar com um grupo de mulheres acima dos sessenta anos de idade, sobre como elas podem viver e agir biblicamente. Não por coincidência, eu mesma tenho uma bibliografia de mais de 50 livros inspiradores lidos sobre o ministério da mulher, escrevi uma dissertação para o mestrado sobre o assunto e, há anos, preocupo-me com as mulheres em minha volta e com como elas podem servir melhor a Cristo. Não tinha, entretanto, nenhum texto sucinto e com conteúdo suficiente que pudesse compartilhar a fim de ela ler para seu grupo. Tem tanta coisa em que pensar para vivermos de modo coerente, tantas questões – e não temos todas as respostas nem as teremos deste lado da eternidade! O que dizer que edifique, estimule e frutifique na vida de outras pessoas como eu, que estão na chamada “melhor idade” e às vezes se sentem sem voz e de mãos atadas – mas que desejam ser fiéis ao Senhor Jesus? Fiquei pensando nas palavras dirigidas especificamente a mulheres como nós:
Quanto às mulheres idosas, semelhantemente, que sejam sérias em seu proceder, não caluniadoras, não escravizadas a muito vinho; sejam mestras do bem, a fim de instruírem as jovens recém-casadas a amarem ao marido e a seus filhos, a serem sensatas, honestas, boas donas de casa, bondosas, sujeitas ao marido, para que a Palavra de Deus não seja difamada (Tt 2.3-5).
Porquanto a graça de Deus se manifestou salvadora a todos os homens, educando-nos para que, renegadas a impiedade e as paixões mundanas, vivamos, no presente século, sensata, justa e piedosamente, aguardando a bendita esperança e a manifestação da glória do nosso grande Deus e Salvador Cristo Jesus, o qual a si mesmo se deu por nós, a fim de remir-nos de toda iniquidade e purificar para si mesmo, um povo exclusivamente seu, zeloso de boas obras (Tt 2.11-15).
O Salmista, dando graças ao Senhor, fala que o justo florescerá como a palmeira e que “na velhice darão ainda frutos, serão cheios de seiva e de verdor, para anunciar que o Senhor é reto. Ele é a minha rocha, e nele não há injustiça” (Sl 92.14-15). Na Bíblia, Deus usa pessoas de todas as idades, de todas as origens sociais e econômicas, gente culta e importante, rudes pastores de ovelhas e pescadores de peixes e de almas. Chamou meninos (Samuel), jovens (José que aos dezessete anos foi vendido e foi parar no Egito, Marcos ), filhos de sacerdotes (Jeremias) e filhas de gente desprezível (Rute). 

Sara saiu da terra e da sua parentela com Abraão para a terra que Deus iria mostrar. Companheira fiel desde a mocidade, no entanto, duas vezes participou da trama de Abraão para dizer uma meia verdade a fim de enganar o rei, dizendo ser ela sua irmã (Faraó – Gn 12.10-20; Abimeleque – Gn 20.1-18). Achando que poderia, ela mesma, “dar um jeito nas coisas”, dado que era estéril e que Deus havia prometido um filho, Sara ofereceu a escrava Agar a seu marido para que esse a engravidasse. Depois que nasceu Ismael, Sara maltratou a sua serva e a expulsou (Gn 16; 21), e, quando ela mesma engravidou, com quase noventa anos de idade, riu da promessa do Senhor... para, só depois, rir por causa da alegria pelo nascimento de Isaque (Gm 21.5-7).

Quando criança, Miriã protegeu a seu irmão, Moisés, e intercedeu junto à filha do Faraó para salvá-lo (Ex 2.4-10). Ela contava mais de oitenta e seis anos quando liderou as mulheres no cântico de vitória depois que Moisés levou mais de seiscentos mil homens, sem contar as mulheres e crianças (que certamente eram pelo menos mais esse tanto!) na saída do Egito e a passagem pelo Mar Vermelho (Ex 15.20-21). No entanto, Miriã liderou o falatório contra Moisés depois de o povo de Deus ter experimentado a provisão de divina do maná e das codornizes – em função do racismo contra o casamento dele com uma cuxita – e foi punida com lepra (Nm 11.35).  

Raabe era prostituta cananéia, mas foi salva na destruição de Jericó (Js 6.17;22-25) porque creu em Deus e protegeu os espias (Js 2 – Hb 11.31 e Tg 2.25). Veio a fazer parte do povo de Deus e foi antepassada de Jesus Cristo (Mt 1.5).

Não sabemos se Débora tinha filhos – só sabemos que ela era profetisa e mulher de Lapidote, e apoiou a Baraque para que vencesse a batalha contra os midianitas – sobre isso ela fez uma canção que termina com uma declaração que tem inspirado mulheres e homens pelos séculos (4.4-15; 5.1-31): “Porém os que te amam brilham como o sol quando se levanta no seu esplendor”.

Na Bíblia toda, histórias de mulheres ativas e atuantes vêm à mente: as jovens Ruth e Esther, as maduras Abigail e Hulda, do Antigo Testamento. No Novo Testamento, Maria, mãe de Jesus, as idosas Isabel e Ana (Lc 2.36-38), a sogra de Pedro (que imediatamente depois de ser curada por Jesus, levantou e passou a servir seus discípulos), a viúva em Naim (cujo filho e único arrimo morreu e foi restituído à vida), a pecadora que ungiu os pés de Jesus, Maria Madalena, Joana mulher do procurador de Herodes, Suzana “e muitas outras as quais lhe prestavam assistência com seus bens” (Lc 8.2-3). Temos histórias verdadeiras que exemplificam a vida de cada mulher, quer elas tenham conhecido a Jesus Cristo naquele tempo em que ele andava sobre a terra quer depois nos mais de dois mil anos em que seu povo tem vivido e sobrevivido na luta pela fé. Hoje em dia, quando nós mulheres somos assediadas por todo lado por práticas impiedosas, filosofias escravizadoras, e ventos contrários a toda piedade, o que podemos ser e fazer como mulheres cristãs vividas, que muitas vezes sentimo-nos derrotadas pelas dificuldades da vida, dos relacionamentos quebrados e daqueles firmados que ainda nos afligem depois de 20, 30, 40 anos que pensávamos teriam sido resolvidos?

Primeiro, ser. Deus, o grande Eu Sou, nos ensina que a razão de nossa existência é sermos dele, viver no seu temor. Muitas mulheres se preocupam com o que fazer para conhecer a Deus – mas Ele diz que não podemos fazer nada enquanto não formos salvos por sua graça renovadora. “Pela graça sois salvos, mediante a fé, e isso não vem de vós, é dom de Deus, não por obras, para que ninguém se glorie”(Ef 2.8). Ser de Deus significa, ainda, ser parte de sua família, ser adotada por ele e, por Cristo, tornada herdeira de toda sorte de bênção celeste e terrena – isto é o que sou como crente em Cristo.

Segundo, onde e o que fazer. Aos Coríntios, Paulo escreveu que “Se alguém está em Cristo, é nova criatura. As coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo!” (1Co 5.17). Você pode ser taxada de velha, sentir-se velha, ver-se no espelho como tendo já acabado os seus dias mais viçosos e belos – mas está vivendo em novidade de vida (Rm 6.7; Rm 7.6). Ainda na velhice dará frutos – como Sara, Dorcas, Priscila, Loide, e Eunice.

Quando Paulo escreveu a Timóteo, lembrando das suas lágrimas, ele recorda “tua fé sem fingimento, a mesma que primeiramente habitou em tua avó Loide e em tua mãe Eunice, e estou certo de que também, em ti” (2Tm 1.4-5). Na sua primeira epístola ao jovem pastor Timóteo, ele já ressaltara o desejo que todos vivessem “sem ira e sem animosidade” (1Tm 2.8) para falar especificamente então às mulheres: 
em traje decente, se ataviem com modéstia e bom senso, não com cabeleira frisada e com ouro, ou pérolas, ou vestuário dispendioso, porém com boas obras (como é próprio de mulheres que professam ser piedosas). A mulher aprenda em silêncio, com toda a submissão. E não permito que a mulher ensine, nem exerça autoridade de homem; esteja, porém, em silêncio ... será preservada através de sua missão de mãe, se ela permanecer em fé, e amor, e santificação, com bom senso (1Tm 2.9-15).
Quando falou especificamente aos diáconos, ele disse: “Da mesma sorte, quanto a mulheres, é necessário que sejam elas respeitáveis, não maldizentes, temperantes e fiéis em tudo (3.11). Os pastores, quando exortassem, deviam tratar 
as mulheres idosas, como a mães; às moças, como a irmãs, com toda a pureza. Honra as viúvas verdadeiramente viúvas... aquela que não tem amparo espera em Deus e persevera em súplicas e orações noite e dia,,, tenha sido esposa de um só marido, seja recomendada pelo testemunho de boas obras filhos, exercitado hospitalidade, lavado os pés aos santos, socorrido a atribulados, se viveu na prática zelosa de toda boa obra (1Tm 5.2-10).
Hoje, existe muita gente que quer descartar as palavras paulinas sobre as mulheres porque acham que, antiquadas, desprezam o valor da mulher – mas quando vemos todo o ministério do apóstolo, observamos o valor que ele dava a mulheres como Priscila, Lídia, Febe, Drusila, Trifena Trifosa, Perside, Julia, Olimpas e uma imensa lista de nomes de mulheres intercaladas com os homens que fizeram parte de sua vida. Entendemos, então, que a ordem de “aprender em silêncio” faz parte do bom senso de não sermos precipitadas no falar, de ouvir antes de comentar – sem jamais usurpar o lugar de outro, homem ou mesmo mulher. 

Não dá, neste pequeno escrito, para comentar com profundidade as perguntas que pipocam – quero somente enfatizar que as mulheres cristãs, de crianças e jovens até maduras e beirando a velhice – têm o privilégio e a responsabilidade de viver a fé que Deus nos deu em Jesus, com amor, dignidade e boas obras. Nossa cabeça tem de estar cheia das palavras de Cristo; nossa boca jamais frívola ou maldizente, mas sempre louvando a Deus e proferindo o bem para nosso semelhante; nossas mãos prontas para toda boa obra, nossos pés caminhando, correndo, quem sabe tropeçando – rumo à Cidade Celestial. 

Amo ver meninas que crescem em sabedoria e no conhecimento de Deus, moças, senhoras esposas e mães jovens – pessoas maduras de toda idade, crescendo na graça e no conhecimento do Senhor Jesus (2Pe 3.18). Qualquer uma e todas nós podemos fazer isso, porque Ele é quem nos salvou, santifica, fortifica e em fim, nos glorificará. Sou grata por ser uma mulher comum que recebeu Jesus como Salvador quando eu tinha apenas quatro anos de idade, tenho vivido com ele desde a mocidade até meus dias de grisalha idade, e continuarei a louvá-lo por toda a eternidade. Este é um desafio a todas nós.

Elizabeth Gomes