sexta-feira, novembro 04, 2016

TEOLOGIA PARA BLOGUEIROS, FACEBOOKERS E OUTROS CONVERSADORES


 
Norman Rockwell - pintura
Uma ilustração antiga vai assim – o menino saía para jantar em casa de um amigo e ouviu uma última recomendação da mãe: E não vá dizer que não gosta de alguma coisa, ein! À mesa, o garoto viu, olhos arregalados, um prato de jiló tão ameaçados como a ordem materna. Não gosta de jiló?, perguntou a mãe do amigo. Gosto, respondeu, de pronto, mas não a ponto de comer. Muitas vezes, cremos, mas não a ponte de praticar. É mais ou menos por aí que vão as “teologizações” na mídia. Há muita coisa boa, de gente boa, graças a Deus! Mas há, também, muita falta de coerência entre o que a Bíblia diz e o que dizemos. Por toda parte vemos ginásticas para cumprir crenças e manter gostos e prazeres pessoais. E vemos tentativas de comunicação, nas quais más posturas e más palavras negam os comportamentos requeridos para uma vida de graça mediante a fé.

Em Efésios 4 (LTNH), Paulo fornece uma lição de teologia da vida cristã – ...peço a vocês que vivam de uma maneira que esteja de acordo com o que Deus quis quando chamou vocês (v. 1b). Nas linhas que se seguem, o apóstolo fala do caráter, da disposição, e do serviço das pessoas chamadas para viver a união da própria Trindade.
Sejam sempre humildes, bem educados e pacientes, suportando uns aos outros com amor. Façam tudo para conservar, por meio da paz que une vocês, a união que o Espírito dá. Há um só corpo, e um só Espírito, e uma só esperança, para a qual Deus chamou vocês. Há um só Senhor, uma só fé e um só batismo. E há somente um Deus e Pai de todos, que é o Senhor de todos, que age por meio de todos e está em todos (vv. 2-5)

Paulo prossegue, dizendo que cada um, dessa totalidade chamada para a salvação, recebeu de Cristo um dom especial ensinado e treinado por pessoas igualmente dotadas e, por sua vez, doadas à igreja: apóstolos, profetas, evangelistas, e pastores mestres, para preparar o povo de Deus para o serviço cristão a fim de construir o corpo de Cristo (cf. vv. 11, 12). Somente dessa forma, diz ainda, chegaremos à necessária unidade da fé e ao conhecimento do Filho de Deus. Somente desse modo seremos pessoas maduras, isto é, alcançaremos a estatura espiritual de Cristo (cf. v. 13). Somente dessa forma deixaremos de ser crianças surfando ondas baratas ao sabor dos ventos de mentiras de pessoas falsas (cf. v. 14). Somente falando a verdade com espírito de amor cresceremos em tudo até alcançarmos a estatura espiritual de Cristo, que é o cabeça (v. 15).

Como discernir textos maduros e textos imaturos, se nosso conhecimento das pessoas se resume, em muitos casos, a um contacto de apresentação seletiva?

Em primeiro lugar, observando criticamente o ajustamento que tais pessoas exibem como membros do corpo da igreja sob o senhorio de Cristo (v. 14). Em segundo lugar, observando como essas pessoas regeneradas abandonam a velha natureza com seus desejos enganosos e como se separam de posturas pagãs caracterizadas por falta de vergonha de expor pensamentos e sentimentos descontrolados e indecentes (vv. 16-19, 22). Em terceiro lugar, observando como essas pessoas aprenderam como seguidores de Cristo, ou “aprenderam a Cristo”, que quer dizer como elas aprenderam a verdade a verdade que está em Cristo (v. 20). As pessoas verdadeiramente dotadas pelo Senhor para servi-lo no crescimento do corpo de Deus despem-se da velha natureza e revestem-se da nova natureza, criada por Deus, que é parecida com sua própria natureza e que se mostra na vida verdadeira... (v. 23).

A comunicação dessa vida verdadeira, e nesta vida verdadeira, implica um constante luta contra todas as formas de mentira. Como expõe o Breve Catecismo de Westminster, sobre o Nono Mandamento (PR 77, 78), a Bíblia requer a “a conservação e promoção da verdade entre os homens e a manutenção da nossa boa reputação, e a do nosso próximo”  proibindo toda forma de mentira, tais como juízos falsos, calunia, difamação, boatos, falsidades, fofocas, tagarelice, insultos, xingamentos, maledicências, falsidades e profecias extrabíblicas.

Deixar a mentira e falar a verdade é uma luta realmente difícil, pois todos somos propensos a considerar as coisas nos limites de nossa própria visão, e não com os olhos de Deus. Alguns que tentam manter honestidade e sinceridade, às vezes, ainda assim, falham em função uma pobre exegese do texto bíblico e desconhecimento da pobreza da natureza humana. O texto de Ef 4.25 diz que nossa motivação para deixar a mentira e falar a verdade com o próximo reside no fato de que somos membros uns dos outros

Novamente, a nossa união com Cristo e nossa consequente unidade no corpo de Cristo é que nos habilita a falar a verdade em amor (cf. D. Powlison, Uma nova visão, Ed. Cultura Cristã). Se atendermos à verdade, também obedeceremos à ordem bíblica de sermos sensíveis à injustiça, irando-nos contra o pecado e a falsidade em quaisquer termos, quer de doutrina quer de comportamentos. Em tudo isso, porém não poderemos ir da ira justa à raiva, pois correremos o risco de sermos tentados pelo diabo (v. 26). Sempre que dermos lugar à ira rancorosa, amargurada, findaremos roubando ao próximo aquilo que, antes, deveríamos proporcionar. Em vez de entrar em contendas inglórias, deveríamos trabalhar para desenvolver os nossos dons e, ainda, para ter com que acudir o necessitado (v. 28).
Não saia da vossa boca nenhuma palavra torpe, e sim unica-mente a que for boa para edificação, conforme a necessidade, e, assim, transmita graça aos que ouvem. E não entristeçais o Espírito de Deus, no qual fostes selados para o dia da redenção. Longe de vós, toda amargura, e cólera, e ira, e gritaria, e blas-fêmias, e bem assim toda malícia. Antes, sede uns para com os outros benignos, compassivos, perdoando-vos uns aos outros, como também Deus, em Cristo, vos perdoou (vv. 29-32).

Aquele que consegue ver com os olhos de Deus e, pelo Espírito, entender a prescrição bíblica, certamente cuidará da própria boca, e da escrita. Para que usar palavra torpe? Uma figura torpe? Só para chocar? Note que não quero ser moralista, legalista, e daí em diante, e faço uso de minha liberdade cristã – mas entendo que, mesmo que uma palavra ou imagem não seja torpe, poderá ser que seu uso seja malicioso. De todo modo, a pergunta é: o que digo, escrevo ou exponho, transmite graça ao que me ouve ou vê?


Wadislau Martin Gomes

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