sábado, maio 18, 2013

MÃE, SÓ TEM UMA!


NormanRockweel: Mother and childreen
 
Ainda adolescente, quando não participava, pelo menos, eu ria com os esquetes humorísticos na “noite dos talentos”, e um que se repetia ano após ano era o de “mãe, só tem uma!”, trivializando o bordão por meio da constatação, junto à geladeira, de que só havia uma garrafa de refrigerante para levar à mesa.

Agora madura mãe e avó, rumino sobre a singularidade e multiplicidade das mães. Mãe, minha, só uma. Há três anos que ela foi promovida à presença de Cristo (aí vai outro chavão que insiste em permanecer na mente criança da gente). Chegado o dia das mães, eu teria de receber uma rosa branca, fossem as comemorações iguais à que mamãe promovia na igreja. (Vermelha só para quem tivesse mãe viva.) Mamãe era uma pessoa única, maravilhosa, esquisita no sentido do inglês de “singularmente especial” e do brasileiro de “estranho e que foge aos padrões da normalidade”. Missionária educadora, foi parteira nos primeiros anos nos antigos campos de Minas Gerais e Goiás, e ajudou a trazer à luz a muita gente. A mim, que nasci de seu corpo, e recebi a Cristo aos quatro anos de idade quando constatei que nunca havia me convertido e insisti com ela que me “ajudasse” a nascer de novo. Além de dar a luz, sempre iluminou minha vida apontando para Jesus a quem servia. Minha mãe era de pedra dura e água fluida, mole e sensível. Os sentimentos batiam fortes de carinho e aconchego e se misturavam com certa rejeição – por achar que jamais chegaria aos padrões de perfeição que ela exigia de si e dos outros: marido, filhas, gente a quem ministrava com orgulhosa humildade. Inseguranças e incongruências sempre marcaram o relacionamento com minha insubstituível, notável mãe que me tentava por no colo mesmo quando ela era frágil velhinha e eu já avó assumida. Sinto falta dela até hoje, embora depois que me casei há muitos anos, convivemos muito pouco. Sobretudo, sinto falta de suas orações, e constato que sempre fraqueja a minha resolução de continuar a vida de oração que ela deixou quando passou à Presença. Sempre soube que quem realmente intercede por mim é o próprio Espírito Santo, mas sentimentalmente, até hoje sinto falta da intercessão de minha mãe.

Fui ainda abençoada porque mãe, não tive só uma. Quando conheci a mãe do Wadislau, imediatamente ganhei outra mãe. Sempre presente em datas marcantes ou comuns, no nascimento de meus filhos, nos sofrimentos e nas alegrias da vida. D. Eulina era uma clássica mãe cristã carinhosa, atuante e sempre carente da graça e transbordante do amor de Cristo. Sempre dando mimos, presentes e atenções a mim, iguais aos que compartilhava com os filhos do ventre, minhas cunhadas e meu marido. Eu não a chamava de mãe, mas trazia-a no coração como tal, e sei que ela também me via como filha caçula.

Em cada igreja em que estivemos, Deus sempre me presenteou com algumas mães inesquecíveis. Em BH, tia Aninha foi mãe para mim. Na Ebenezer, Dona Isolina Berthaud me acrescentou à prole de três filhos homens. Dona Bernardina, com sua ingênua sabedoria analfabeta, sempre demonstrou carinho por nós e nossos filhos (não existe melhor modo de ganhar o coração de uma mãe do que amar seus filhos). Em Jaú, três eram as preciosas e marcantes “mães oficiais”: Dona Hyripsimé (ou Iracema), dona Wanda e Dona Elpídia – para a jovem, inexperiente e muitas vezes inepta esposa de pastor, essas três esbanjavam carinho, cuidados e conselhos vivendo de modo prático o ministério maternal que Paulo recomendou Tito promovesse para as mulheres mais maduras da igreja.

Hoje eu estou entre as mulheres mais maduras da igreja, e quando não posso ajudar minha filha que está longe, fico com coceira na língua para compartilhar com mulheres mais jovens que enfrentam lutas e vitórias que já vivi. (Aprendi que guardar a língua é um dois exercícios de amor cristão mais importantes na vida. Mas às vezes ainda dá coceira!). Fato é que continuo vivendo maternidade, embora meus filhos sejam adultos maduros que independem de mim e a quem às vezes eu recorro com certa dependência. Ainda hoje me alegro quando recebo notícia de alguém que conheceu a Jesus por meu intermédio, ou aprendeu uma receita inesquecível que virou parte do repertório de sua casa, ou foi edificada por algo que falei ou escrevi. Cada experiência fez e faz parte de uma vida em que muitos foram os questionamentos, algumas foram lutas travadas ainda não vitoriosas, diversas as inseguranças e incertezas – e permanece sempre a certeza de que “Aquele que começou boa obra em vós a aperfeiçoará até o dia de Cristo Jesus”. Já e ainda não – constatação de nossa salvação e glorificação passada, presente e futura. Mãe, tenho tido muitas, mesmo que cada uma tenha sido única. A própria maternidade nos faz considerar a profunda questão filosófica existencial de unidade e multiplicidade. E, ao lembrar de minha mãe única e de minhas muitas mães, tenho de aplicar as lições de vida a minha própria existência para que, ao aplicá-las às vidas de meus filhos e das gerações futuras, eu sempre esteja firmada na Rocha/Refúgio. Maternidade não é algo estático nem é apenas simbólico. Gera, nutre e multiplica vida para a eternidade. Por isso aproprio-me de uma figura materna para falar do relacionamento dessa criatura caída e restaurada com o todo poderoso Deus dos Antigos: “como a criança desmamada se aquieta nos braços de sua mãe, como essa criança é a minha alma para comigo” e confiante, afirmar ainda com o salmista: “Espera, ó Israel, no Senhor, desde agora e para sempre” (Salmo 131.2 3).

Elizabeth Gomes

2 comentários:

slima disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
slima disse...

Muito doce e linda essa homenagem Beth. Mesmo com tão pouco convívio e diálogo, o pouquinho que partilhamos me deixa uma vontade enorme de quero mais, assim como de voltar a saborear a sua comida. Que Deus a abençoe e nos possibilite muitas oportunidades de encontros. Sinta-se abraçada e transmita o meu abraço ao Wadislau. Beijos.Socorro Lima