sexta-feira, setembro 14, 2012

FOTOS, IMAGENS, REFLEXOS E REFLEXÕES


Girl in the mirror, de Rockwell
 
 
Recentemente, mudei a fotografia do meu facebook e mais de oitenta pessoas escreveram, comentando positivamente. A foto agradou de verdade, porque não obstante minhas rugas, manchas e visível sobrepeso, estava olhando para meu marido (que também revelava semblante amável) com amor, jeito maroto e de cumplicidade constante – características capturadas em cores pelo jovem artista fotógrafo que é nosso primo Tércio. Raramente saio bem nas fotografias e, assim, esta fez uma feliz diferença. Fiquei pensando na imagem que desejo transmitir – se é verdadeira, se edifica e se transmite graça aos que vêem.

Tem gente que é fotogênica por natureza. Pode até estar zangada, irritada ou cheia de maus pensamentos, mas dá um sorriso e dissipa qualquer dúvida quanto a sua beleza. Alguns astros e ídolos de cinema e da mídia conseguem transmitir serenidade e segurança quando na realidade poderão estar entre as pessoas mais perturbadas desse mundo tenebroso. Neste tempo pré-eleições isso se vê muito na distribuição de “santinhos” dos candidatos a vereador. Algumas fotos foram tão maquiadas que não dá para reconhecer a pessoa ao vivo.

Ao falar do amor, Paulo não deixou de mencionar que “agora vemos por espelho, obscuramente” (1Co 13.12) mas um dia veremos face a face. Você já esteve em um parque de diversões onde um espelho de distorção deixa-nos exageradamente gordos ou magros, compridos ou baixos? Os espelhos de bronze da antiguidade eram assim: refletiam algumas características da pessoa – mas não apresentavam a imagem como era realmente.

Como é que fomos feitos imagem de Deus, se Deus é invisível e não tem corpo (exceto no Filho encarnado, Jesus)? Como é que somos imagem de Deus se somos mortais e qualquer beleza que tenhamos é efêmera e desvanece? O ser humano é diferente dos animais, não por maior inteligência ou capacidade de fala ou habilidade de usar instrumentos para criar outras coisas – mas por ser imagem de Deus, feito para refletir e glorificar o Criador. A pessoa humana é capaz de espelhar as características divinas em escala proporcional a sua finitude diante daquele que é infinito.

Quando escolhemos qualquer coisa como digna de culto e apreço mais que Deus, nós estamos formando ídolos. Geralmente esses ídolos são valores e conceitos que em si mesmo poderão ser bons – mas se tomados em lugar do Criador, são vaidade idólatra. Isaías comparou a filha de Sião com “choça na vinha, palhoça (ou espantalho!) no pepinal, cidade sitiada” (Is 1.8) por causa de sua idolatria; Jeremias afirmou que “suas imagens são mentira e nelas não há fôlego” (Jr 51.17). No entanto, muitas vezes preferimos tais imagens – miragens de oásis inexistentes – à realidade papável do Deus eterno.

Tenho o  sonho de escrever ficção que enterneça e mova os corações a amar mais a Deus. Mas minha ficção precisa transmitir a realidade. Quer nas mídias sociais quer em escritos literários quer manchetes populares, temos de perguntar, quanto às imagens que mostramos, se elas são verdadeiras – não apenas verossímeis – mas parte da realidade que Deus nos deu.

Outra característica da imagem de Deus no ser humano é que ela jamais é destruidora, mas sempre edificante. Interessante que Deus deu muita ênfase à destruição dos ídolos como característica de pertencer  a seu povo de exclusiva propriedade. Todo avivamento começava com a destruição de ídolos – e se firmava na edificação: da cidade (Neemias), do templo (Josias e Esdras) e da igreja (Mt 16.18; At 16.5). Como pessoa criada para criar e construir, minhas atitudes, minhas palavras e meus atos têm de ser edificantes.

Finalmente, ser criada à imagem de Deus significa que transmito graça ao que toco. Fui tocada pela graça de Deus – generosa, abundante, multiforme, infinita – e pela graça mediante a fé, toda minha vida deverá ser vivida, na certeza de que “todos nós, com o rosto desvendado, contemplando, como por espelho, a glória do Senhor, somos transformados, de glória em glória, na sua própria imagem, como pelo Senhor, o Espírito” (2Co 3.18). Nessas coisas todas não sou fotogênica, e minha imagem é ainda um desenho infantil de quem começa a segurar o lápis e apenas usa um círculo para a cabeça e linhas tortas para os membros. Mas um dia, pelo Espírito que habita em nós, serei transformada de glória em glória na imagem de Cristo!

Elizabeth Gomes

Nenhum comentário: