terça-feira, junho 05, 2012

NOSSAS LINDAS CRIANÇAS 2


Ela começou a faltar logo nas primeiras reuniões nas casas para iniciar o que viria a ser a Igreja Presbiteriana Paulistana. De vez em quando aparecia, mas deixava o filho em casa com a ajudante. Tinha “dificuldades porque o filhinho pequeno podia atrapalhar os cultos”. Disse-lhe que trouxesse o filho, “que ele não atrapalhava, e o as distrações ou barulho diminuiriam à medida que amadurecesse,” – era importante que trouxesse o filho. Hoje, a IPP está cheia de crianças que participam do culto com os jovens, adultos e idosos. Tem aquele menino (ainda criança sapeca, mas muito bem educado) que faz perguntas e comentários de quem ama Jesus e vai seguir o seu caminho por toda a vida.

Houve um pastor de grande cultura e preparo que, quando terminava seu doutorado, assumiu uma classe da escola bíblica dos meninos de cinco anos. Foi um marco na vida – e na vida da petizada. Ao contrário da (falta de) visão de igrejas que designam apenas gente despreparada para ensinar a turminha, deveríamos dar às crianças os melhores teólogos e mestres. Conheço bem esse lado – entediada com a minha classe de adolescentes, comecei a dar aulas para crianças aos treze anos. Era fácil: lia a lição em casa, trazia alguma novidade visual, cantava uns corinhos – e dava massinha ou lápis de cor para as atividades de “trabalhos manuais”. Como muitas colegas, fugi do ensino bíblico na igreja porque desenvolvia um “ministério” infantil. Ah! outro detalhe – são poucos os homens que se dispõem a ser professores de crianças – quando mais elas precisam dos modelos vivos de homens e mulheres que amem ao Senhor e sirvam à igreja em amor às crianças.

Quem chega à IPP estranha que não oferecermos uma escola dominical. Não somos contra aulas bíblicas para grupos menores e damos acompanhamento, sensíveis ao nível intelectual e espiritual das diversas idades. Durante a semana, os crentes se reúnem nas casas para estudo bíblico e oração. Consideramos que os pais devem dar o treinamento religioso aos seus filhos, orando com eles desde pequeninos, lendo e ensinando-lhes a Bíblia e a vida cristã dela derivada. Mas o cerne do culto de domingo é adoração a Deus e a pregação da sua Palavra. Dele participam todos – desde a anciã de noventa anos até o pequerrucho de seis meses que vai com seus pais desde (antes) que nasceu. E para que as crianças saibam a importância de aprender da Palavra de Deus, os pastores têm uma mensagem especialmente dirigida a elas antes da mensagem, às vezes longa, do dia. As crianças participam do culto, louvando a Deus, ouvindo a leitura bíblica e as orações, sendo que as menores, que ainda não sabem ler, saem, depois, para atividades especiais. Até os que ainda não entendem o que se passa, recebem duas coisas: 1) que conhecer a Deus e ao seu amor é muito bom, e 2) que elas são amadas por esse grande Deus, como também queridas por toda essa gente grande que as cerca de carinho. É gratificante ver quinze a vinte crianças pequenas sentadas no chão à frente da igreja, participando do culto (às vezes, com tiradas a alto som!) e aprendendo que são importantes para Jesus e que ele é de suma importância para elas. Tem ainda o detalhe das crianças maiores, que já não sentam no círculo dos pequeninos de chão, mas participam da tarefa de conhecer melhor a Palavra de Deus a cada dia. Adolescentes e pré-adolescentes participantes do culto! O sermão “infantil” é sempre introdução e aplicação prática do sermão “de adultos”. Tem gente grande que presta tanta atenção quanto seus filhotes, pois o pastor consegue fazer e dizer coisas que transcendem as barreiras da idade. É engraçado observar os quatro ou cinco carrinhos de bebê à frente para essa pregação. Um garotinho de seis meses é animado e ativo, mas não dá um pio durante a mini-mensagem! Há uns dois simpáticos que sempre têm uma nota cômica.

Quando no seminário, participamos do curso da APEC (Aliança Pró-Evangelização de Crianças); todos tivemos de aprender a lidar e ensinar às importantes crianças (pois dos tais é o Reino de Deus, Mc 10.14,15). Nosso filho aprendeu, aos três anos, que “Mesmo um menino pode crer na redenção de Deus”. Essas aulas nos deram base para o ensino bíblico, não apenas com as crianças, mas com toda faixa etária. Já usei dicas de aulas para crianças com esposas de pastores e até no ministério a pessoas idosas!

Durante anos, sempre que Wadislau era convidado a pregar em alguma igreja, eu me envolvia com as mulheres e crianças, promovendo classes bíblicas, escolas bíblicas de férias. Não creio que haja algo como “cultinho infantil”. Culto, por difinição, não é diminutivo, e a criança deve aprender isso. O culto é prestado pela igreja formada de todas as idades, pessoas e famílias – e as crianças devem tomar gosto pelo culto público.

Eu costumava dar aulas de treinamento de professores para a APEC, principalmente de “psicologia da criança”. Amo as oportunidades de desenvolver criatividade (ao mesmo tempo em que a observo) que se abrem no trabalho com crianças e com professores de crianças. Tenho amigos queridos que atuam há anos em ministérios voltados ao trabalho com a infância, a começar com Satie Julia Mita, colega desde a Palavra da Vida, e o diretor internacional, Vacilios Constantinides, com sua esposa.

Hoje, não tenho atuado mais nessa área. Não tenho mais a energia dos vinte anos. Meus ossos são relutantes em seguir o canto: “Eu pulo num só pé... mas vou mantendo sempre o equilíbrio”. Assumo papel de avó que dá colo, carinho e apreço. Envolvimento existe, atuo na oração pela geração dos pequenos que virão a ser homens e mulheres de Deus. Assim como Jesus acolheu os pequeninos, nós os acolhemos. Do modo como ele orou pelos seus futuros discípulos, intercedemos pelos que os seguirão depois de nós. Van Til, quando indagado sobre sua motivação para a apologética, respondeu: “Defender os cordeirinhos do Senhor”. Nós que não somos nem grandes teólogos nem pastores, também participamos da grande, imprescindível tarefa de cuidar dos cordeirinhos.

Nossas lindas crianças são o sonho presente do futuro de igreja sadia, atuante. Se nossa igreja cresce também por explosão populacional – pois temos muitos casais jovens iniciando suas famílias – temos de lembrar que estamos crescendo por explosão conversional – “para converter o coração dos pais aos filhos, converter os desobedientes à prudência dos justos e habilitar para o Senhor um povo preparado” (Lc 1.17) e “estáveis desgarrados como ovelhas; agora, porém, vos convertestes ao Pastor e Bispo da vossa alma” (1Pe 2.25).

Elizabeth Gomes

Veja o pastor Wadislau falando com as crianças

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