sexta-feira, abril 29, 2011

O HEREGE E A VITIMIZAÇÃO


Vitimização é um problemão danado; nem o dicionário aceita. O sentimento é indescritível. O que é possível fazer para dar uma ideia, é imaginar. Você entra em um banco por aquela porta gerativa de ansiedade. De repente, a respeitável anciã ao lado se lança contra a parede, estatela olhos e boca em desafino, dedo em riste em sua direção: “Não, por favor, não!” O bem treinado vigilante se lança ao chão, a senhora da mesinha do fundo se levanta brava como gerente, e todos os olhares convergem para a cena.

Quando cada participante da peça chega em casa e conta o caso, todo mundo acaba sendo vítima. Seu sentimento, no entanto, será o pior. “Se pelo menos não fosse uma velhinha, ela ia ver”. Vitimização tem disso: o fraco abate o forte exagerando fraqueza ante uma pretensa ameaça. Você sabe: o menor infrator pego em fragrante, o cônjuge que abusa o outro, o motociclista depois da cortada e do acidente, e o atacante que errou o golpe e acertou a parede.

Com tudo que havia para me incomodar na entrevista do Gondim, na Carta Capital de 27 de abril, fiquei engasgado com uma expressão: “Fui eleito o herege da vez”, como o destempero da velhinha vitimizada, gritando um “Deus me livre de um Brasil evangélico”. Na verdade, lá no banco, você poderia ter respondido: “Claro, senhora, como posso ajudá-la?” Mas nas páginas da imprensa giratória, ouve-se o grito e deixa-se pra lá. No entanto, não quero levar para casa o sentimento de que fui vítima do golpe da velhinha, não quero deixar de ajudar aos que veem a lição de vitimização; nem quero discutir opiniões, segundo diz 1Tm 4.7. Talvez, em benefício da alma da velhinha e dos circunstantes que ainda confiam nas instituições da fé verdadeira, eu diria o seguinte.

Deus me livre? Que deus? Um que não tem controle, não está sempre presente nem tem autoridade para livrar sua criação de acidentes e incidentes? O Brasil evangélico é mais poderoso do que esse deus. Claro que eu vejo esse Brasil evangélico com apreensão, mas, em vez de atacar a fé, ataco o pecado da rebelião que é descrença, da reversão mental que é infidelidade e da inversão da referência homem/Deus. A verdadeira igreja de Cristo, por disposição da graça de Deus, está aí, no meio da igreja brasileira. Somos pecadores, não menos do que todos os homens, e se nos alcança a graça salvadora, somos justificados pelo Deus que justifica o ímpio. “Quem intentará acusação contra os eleitos de Deus? É Deus quem os justifica” (Rm 8.33).

Aborto, homossexualismo e influência islâmica? Esclareça-me algumas coisas: aborto é livre; mas, e se iniciássemos um movimento de aborto de papagaios e baleias? Homossexualismo é opção natural de identidade sexual, mas desordens de personalidades devem ser psicológica ou psiquiatricamente tratadas? Influência islâmica no mundo faz parte da ordem da história, mas proibição legal e ilegal da pregação cristã nos países islâmicos é de boa ordem? Ora, ora, esses temas não estão na agenda do cristianismo mais do que outras, e só entram em pauta por causa da efervescência do nosso tempo.

Tem mais: a cosmovisão anticristã é certa; a cristã é errada? No Brasil do futebol, é sabido que o jogo tem dois times, dois gols e regras próprias, e que o acerto pluralista (“eclético, ecumênico”) que seja bom para os dois lados é infração. Aqui também, ora, há duas cosmovisões possíveis: a do regenerado e a do não regenerado. Um tem seu ponto de referência em Deus; o outro, no homem. “Nós nos revoltamos quando um político abre a porta para o apadrinhado”. Nós também. Mas também incomoda quando o raciocínio é: se é assim comigo (ele), “Por que seria diferente com Deus?” Com efeito, é porque Deus não imita o homem, mas chama o homem para espelhar seu caráter.

“Se para ter sua adesão eu preciso apelar a valores cada vez mais primitivos e sensoriais e produzir o medo do mundo mágico, transcendental, então minha mensagem está fragilizada”. Aí, eu concordo, mas não com a maneira intencionada. A mensagem da vitimização, aí vista, sim, é frágil. Não da fragilidade humana que, como a erva, de manhã nasce e logo seca, pois essa é bíblica (Sl 90; Is 40; Tg 1; 1Pd 1; ver Mt 6; Lc 12). Antes, é fraca por causa da falta da transcendência que permite que nos comuniquemos (transcendência pessoal) e que permite que nos comuniquemos com Deus; sobretudo, que nos permite a eternidade (Ec 3.11). Nisso sim, há fraqueza doentia, moralmente má, eticamente perversa, que leva o homem a chamar ao soberano Deus da Bíblia de títere (marionete, pelego, bufão). “Vivemos como se Deus não existisse porque só assim nos humanizamos...”. Isso é que é se jogar contra a parede, gritando: sou vítima de Deus, enquanto o ataca. Mas não tem nada não; não há como reprimir a glória de Deus. Ele está no controle, presente e em autoridade.  Como disse Gamaliel: porque, se este conselho ou esta obra vem de homens, perecerá; mas, se é de Deus, não podereis destruí-los, para que não sejais, porventura, achados lutando contra Deus. E concordaram com ele (At 5.38-39).

Wadislau Martins Gomes

sábado, abril 16, 2011

DE ALMA E DE ARMAS



OU: FOCINHO DE PORCO NÃO É TOMADA

“O que esse pessoal não prova em nada é a relação entre as armas legais e os índices de violência. A nova tentativa de tirar as armas legais de circulação só vai expor o cidadão comum aos delinquentes, criminosos e lunáticos armados ilegalmente” (Leonardo Bruno, 13 Abril 2011, http://www.midiasemmascara.org/).

Inspirado no artigo citado acima, segue uma contribuição cristã para a solução do problema da violência.

Algumas figuras são tão boas que se encaixam na cabeça como plugue macho em tomada elétrica. Nessa linha, a imagem de Pv 11.22 é uma preciosidade: Como jóia de ouro em focinho de porco, assim é a mulher formosa que não tem discrição. À primeira vista, nós, homens, concordamos, levantamos o nariz, e mostramos o texto para a namorada ou esposa. Contudo, não confunda esse focinho de porco com tomada, pois a comparação aplica-se ao homem e à mulher, como vem no versículo seguinte: O desejo dos justos tende somente para o bem, mas a expectação dos perversos redunda em ira (v. 23). Em outras palavras: o desejo de justiça é uma jóia, mas quando injustamente reivindicada, revela nosso focinho de porco.

Essa definição é significante especialmente quando (i) uma violência geral e incontrolada toma conta de um número crescente de indivíduos e de grupos; (ii) a sociedade fica paralisada e entorpecida à espera de uma ação efetiva do governo; e (iii) o governo exibe inabilidade para discernir uma política correta e incapacidade para lidar com o problema. Creia nisto: homens tomados de ira maligna e cultores de violência só poderão ser combatidos por homens de ira santa, cultores da paz de Deus.

A ira, ao contrário da ideia comum, é primariamente uma virtude (cf. Rm 1.18 e Ef 4.26). Será correto, até mesmo, dizer que a ira é o diamante das jóias entre as virtudes morais. De fato, ela é o sentimento que nos sensibiliza a fim de reconhecermos uma injustiça cometida. A ira está para o senso moral assim como a dor está para o senso de integridade física. Não é verdade que, se o porco tivesse a expectação do abate, não se deliciaria tanto com o processo da engorda? A ira torna-se pecaminosa e destrutiva quando a reação contra a injustiça é feita com base na mesma injustiça. Por isso é a que Jesus também disse que, se nosso senso de justiça não for distinto e maior do que qualquer injustiça recebida, jamais apreenderemos a justiça do seu reino (Mt 5.20) e: todo aquele que sem motivo se irar contra seu irmão estará sujeito a julgamento (v. 22).

Confrontadas quanto à ira pecaminosa, geralmente as pessoas negam ou justificam o sentimento: “Eu, irado? Não!” Ou: “Mas também, veja o que me foi feito!” Poucos reconhecem a natureza do sentimento. Entretanto, não há como esconder, e a ira injusta revela nosso focinho de porco. Homens e mulheres, ao se queixarem de maridos, esposas, filhos, patrões, empregados, colegas etc., estejam certos ou errados, sempre exibem humores irados. De um, a raiva intestina explode como espirro; de outro, a amargura azeda e escorre; e em ambos os casos, revela-se o focinho de porco (cf. Hb 12.14-17). Só há uma maneira justa para lidar com a ira: Não te deixes vencer do mal, mas vence o mal com o bem (Rm 12.21). E daí, se meu irmão foi mais aceito? Se meus pais erraram? Se meu trabalho não foi reconhecido? É Deus quem julga o homem; por que, então, eu tento acusá-los, e a outros (Cf. Rm 8.33)? Não seria o caso de atentarmos ao próprio rabo antes que bata a porta? Como disse Tiago, quem conhece a Palavra e não considera sua verdade é como quem olha no espelho e, depois, vai embora esquecido (Tg 1.23-25) do próprio focinho.

A Bíblia diz que a estultícia do homem perverte o seu caminho, mas é contra o Senhor que o seu coração se ira (Pv 19.3). Por que é que nossa rebeldia é sempre contra a “religião”? Ateus e crentes amargurados sempre se voltam contra Deus. Ele é sempre a causa da sua miséria. No entanto, no fundo, não queremos enfrentar a verdade porque ela é luz que denuncia nossa cara suja do último bocado de pecado. Sob essa luz, olhando no espelho, posso até imaginar a cara do Caim, filho do Adão e da Eva Silva-Éden (assassino do irmão) quando Deus lhe perguntou: Por que andas irado, e por que descaiu o teu semblante (Gn 4.6)? A autojustiça de Caim brilhava em seu rosto como jóia em focinho de porco. O rapaz teria ouvido dos pais a história do coração a respeito de um tempo bom, na Criação, em que a vida tinha sentido, em que dignidade pessoal e aceitação amorosa regiam os relacionamentos. Entretanto, sua experiência era uma de difícil digestão: por que seus pais fizeram o que fizeram e por que ele é que deveria ter saudade do jardim que não conhecera e ainda ter de aguentar as pendengas da família? “Eu não estava lá; e nem pedi para nascer!” Deus ainda perguntou, retoricamente: Se procederes bem, não é certo que serás aceito (Gn 47)? No fundo, a ira de Caim era contra o que ele julgava ser uma injustiça de Deus – que não o aceitara.

Sei que não é fácil assumir que o focinho no espelho é o nosso próprio. Fica bem mais fácil se nosso irmão, nossos pais, ou o povo, forem causas da desgraça. No entanto, é nosso semblante que se encontra descaído, e é nossa a ira amargurada que cria nossa mesma história do coração. Deus não disse: “se os pais ou o irmão procederem acertadamente, alguém será aceito”. Se quisermos viver bem a nossa vida, teremos de vivê-la nós mesmos diante de Deus, pela graça e mediante a fé. Ansiamos por uma vida de independência e autonomia, mas levamos uma existência de escravos, presos pelas correntes da transferência de culpa. A culpa é da religião, a culpa é do governo, a culpa é da sociedade... de quem mais? “Minha é que não é”, diz alguém. É minha, eu digo, quando não entendo a ira

Deus concedeu ao mundo dois ministérios de homens: (i) o da pregação da paz com Deus e entre os homens, em Cristo e no poder do Espírito, e (ii) o da disciplina da paz, sob responsabilidade do governo, ao qual deu o poder da espada. Ambos os poderes, a fim de manter fidelidade a Deus, deveriam saber lutar com suas próprias armas. De nossa parte, deveríamos saber esgrimir com a palavra da verdade, no poder de Deus, pelas armas da justiça, quer ofensivas, quer defensivas (2Co 6.7). O governo deveria brandir com maestria a espada da lei, assegurando proteção ao indivíduo e à sociedade, tanto na coibição e punição da violência quanto na garantia ao indivíduo de proteger a si mesmo e à parte da sociedade em que vive. Para isso, teríamos de ter consciência de quatro coisas: (i) o governo não é a sociedade, mas é formado de grupos de membros chamados para agir em benefício da sociedade; (ii) o governo não é todo presente e poderoso para agir sem o necessário concurso dos cidadãos de bem; (iii) assim como a Palavra de Deus é instrumento de ação do ministro, mas deveria ser usada por todos os homens, também o uso da espada da justiça não é restrito ao governo; portanto, (iv) todo homem de bem é “governo” de sua própria vida e membro de governo de outras esferas tais como família, vizinhança, escola etc., com a missão de proteger o próximo.

Sobretudo, individual e corporativamente, deveríamos saber lidar com a ira. Retirando a boa ira, perderemos noção da justiça; inativos contra a má ira, incitaremos a injustiça. A escolha é essa: onde por a jóia – no focinho do porco ou no rosto da mulher bela?

Wadislau Martins Gomes

sexta-feira, abril 08, 2011

PERSEGUINDO UMA POLÍTICA CRISTÃ (2)


CONFISSÃO DA CULPA NACIONAL

Wellington Meneses de Oliveira assassinou onze e feriu treze crianças, e matou um pouco mais a alma moribunda do povo brasileiro. Atroz o crime, enorme a culpa do indivíduo e da sociedade.

Cubra-se de vergonha a Pátria que mata seus filhos – e confesse sua culpa. Confesso eu, que não tenho gritado até a voz rouca contra tanta miséria e covardia nem tenho sofrido até o sangue pelos meus irmãos de solo. Confesse o sistema revolucionário brasileiro que planta a violência e espera que o povo cultive flores. Confessem governantes e legisladores cujos exemplos de imoralidades não cuidadas destroem a moral da Nação. Confessem juízes e advogados, rápidos para emitir opiniões e morosos para fazer valer a justiça e o direito. Confessem os educadores que não mais ensinam nobreza e dignidade, mas estimulam a mediocridade. Confessem os servidores públicos que abusam da posição e passam ao largo da praça do povo. Confessem os industriais e comerciantes que atravessam a Terra em busca de ouro e deixam atrás um rasto fétido de caras inutilidades. Confessem as minorias iradas e as maiorias omissas. Confessem os pais que ainda não perdemos nossos filhos e que, por isso, amanhã esqueceremos a tragédia. Confessem as religiões idólatras que pregam o diabo a quatro. Confesse a igreja evangélica que abandonou a pregação profética em nome de novidades caducas. Confesse aquele que é rebelde contra Deus e que só pensa nele quando tem de ter alguém para botar a culpa.

Perdoem-nos, ó pais e irmãos, por permitirmos que as coisas continuem desse jeito. Perdoem-nos o soluço tardio e a ira inoperante.

Perdoe-nos, ó Deus, porque vivemos no país do carnaval, desfilando fantasias de grandezas em pleno dia de cinzas!

Wadislau Martins Gomes

quinta-feira, abril 07, 2011

PERSEGUINDO UMA POLÍTICA CRISTÃ


O cristianismo sofre ataques de todo lado, principalmente de bocas que se julgam defensoras de liberdades e direitos. Por exemplo, a “boca rica” das comunicações, a rede de TV Globo, que (des)faz a cabeça do país, e em que bocas pobres de discernimento mastigam insensatez. Se o comentário é sobre a queima do Alcorão em uma pequena igreja que almeja o show, lá vem um que diz, fora de contexto: A ciência já provou que a humanidade nasceu na África. Eu pergunto: em que laboratório a experiência foi realizada, testada e repetida, e qual é o enunciado do fato científico do nascimento da humanidade, em qualquer lugar? O cristianismo, pelo menos, tem respaldo em documentos históricos revelados por Deus. A notícia de que o Brasil foi elevado à categoria BBB na confiança do investimento internacional vem na mesma panela do Big Brother Brazsil e do último quadro da criminalidade, cozida ao molho cínico do comentário: Já houve aquela do aborto na campanha da Presidente e, agora, ainda querem botar mais religião na política? O cristianismo, por sua vez, tem a companhia da boa moral e ética.

O blogueiro Reinaldo Azevedo fisgou o nervo do dente da questão (http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/a-religiao-verdadeiramente-perseguida-no-mundo-hoje-e-o-cristianismo-ou-de-corajosos-e-covardes/; 04/04/11). De onde vem a sanha, essa baba raivosa, essa perseguição canina? Por que ninguém ataca o noel nem o saci? Certamente, essa ira procede de uma rebelião contra tudo que se chama Deus, que reverte a mente e inverte o ponto referencial das coisas (cf. Rm 1.18-32). Como disse o poeta que amaldiçoou a própria alma: “terra maior que os céus, homem maior que Deus” (Bilac). Assim, perdidas as noções de distinção e proporção, só podem falar em termos que sequer são surreais. Como também já foi dito: nem estão errados, pois para isso teriam de ter estado certos.

No entanto, esse negócio de cristão na boca do leão é coisa antiga. Em um sentido, faz parte da luta contra o mal, e, em outro, opera sabedoria (ver Tg 1). É certo que o crente não deveria sofrer por ser transgressor da lei nem por burrice. Muita perseguição seria mais bem enfrentada e muita poderia ser evitada mediante a obtenção de uma boa cosmovisão cristã. Todo cristão deveria entender biblicamente a questão política. Tem cristão de esquerda, de direita, de centro, de cima (caindo de paraquedas), de baixo (do pano) e tem quem invoque a separação entre igreja e estado. Está certo, mas não confunda essa separação sadia com a enfermiça separação entre fé e política. Falta fé na política porque falta muita fé, na política; falta política centrada em Cristo e eleitor cristão consciente da própria fé.

O que o cristianismo crê, é que, primeiro Deus criou um homem e, depois, uma mulher, diferentes na individualidade e iguais na humanidade. Estão aí, assim, duas esferas de atuação humana – a individual e a social. São duas esferas com domínios próprios (autárquicas, isto é, soberanas sob a soberania de Deus) cujas interações formam uma terceira esfera subalterna, a do governo. Indivíduo tem cara, nome e domicílio, e sua atuação compreende três movimentos: para cima (Deus), para dentro (ser interior) e para fora (o próximo e o mundo); sociedade é associação tácita de indivíduos que realizam esses movimentos por meio de deveres e direitos afins.

Governo, por sua vez, não tem realidade em si mesmo, mas sua existência está implícita na relação de indivíduos com a sociedade. Sua preeminência existe não por causa do poder próprio, mas da delegação do Deus que chamou indivíduos para que fossem seus ministros civis com vista ao cuidado da sociedade. Lembra do que Deus disse à mulher, logo após o pecado? O teu desejo será para o teu marido, e ele te governará (Gn 3.16). Essa não foi uma lei, mas uma constatação da triste realidade política de um mundo decaído. Não é importante, aqui, que tenha dito à mulher ou ao homem. O fato é que a política decaída é baseada, de uma parte, em desejos a serem satisfeitos por pessoas insatisfeitas, e, de outra, na dominação de pessoas tendentes a jogos de poder.

Quando é assumido por indivíduos ou partidos que agem como se fossem deuses – mesmo que o discurso seja um de democracia, justiça social, erguimento financeiro econômico da nação e excelência administrativa – o governo se torna déspota e sujeito a corrupção. Por quê? Porque não ministra sob a vontade de Deus nem se sujeita à prevalência dos indivíduos que o elegem, nem cumpre seu papel de protetor do bom cidadão e juiz do homem mau. Antes, entrega-se à luta pela obtenção e manutenção do poder a qualquer custo – muitos, agindo como homens maus.

Para cumprir o papel de ministro civil de Deus, o governo precisaria respeitar e implementar as esferas individuais e sociais, e todos os círculos de autonomia a esses vinculados de diferentes maneiras nos particulares seguimentos da vida. No entanto, ele estará incapacitado para essa tarefa, se assumir que o próprio governo seja a sociedade. Por exemplo, a família é uma esfera em que a preeminência do governo só existe quando a respeita. No entanto, o governo chamado “social” pretende ser chefe de família, pai e mãe – esquecido de que não tem o aparato necessário para gerar ou criar filhos! Dizendo-se povo, arvora-se em legislador da consciência do indivíduo. Assim, fica clara a esterilidade desse tipo de governo. Outros exemplos, como a educação, o comércio, a igreja, são círculos de autonomia dentro das encapsuladas esferas individuais e sociais. Essas esferas deveriam ser livres. Quando pretende ser mestre, proprietário ou papa, o governo excede sua autoridade e anula sua efetividade.

            Como disse o blogueiro, a questão é uma de coragem ou covardia. Quando é que nós, de natureza idólatra, deixaremos de nos curvar ante os deuses deste tempo, ante a ignorância dos sábios segundo o mundo e ante as próprias necessidades, para adorar o Deus da Bíblia? Quando é que aprenderemos a votar em quem sabe o que é governo e sabe fazer política segundo a Palavra de Deus? Certamente quando amarmos mais o estudo da Bíblia como regra de fé e prática (incluindo política) e, entre outras coisas, aprendermos a não escolher políticos pelo rótulo, mas pelo conteúdo. Aí, sim, seremos realmente cristãos em termos de abençoar o mundo ao redor.

            Quando isso acontecer, não teremos medo de perseguição. Será preciso que não sejamos perseguidos como déspotas, corruptos, falseadores da verdade, odiosos de Deus; nem como quem se omite da luta contra o mal ou da defesa da fé. Mas se formos perseguidos por causa da justiça, que Deus nos fortaleça a boca e os dentes.

Wadislau Martins Gomes